quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Passa por mim brisa


Passa por mim brisa
suave, temperada
numa calmaria
que cala.
Pululam
rosas em botão
nas roseiras
plantadas
aqui, ali
numa harmonia
ao acaso
e nesta ausência
de ruídos
escuto,
quase desmaiando
em temperatura febril,
a tua voz
longínqua,
presente
nesta ausência
ignorada por demais!
Sossego-me
nos verdes
azulados
desse mar
que é meu vizinho.
E assim
me dou
completamente despida.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Havia festa por ali

Havia festa por ali
o enlevo dos corpos
completava-se
nas douradas roupas
que os mesmos trajavam.
Sustentados os egos
em azuis sombras,
na curvatura pronunciada
de falsas pestanas,
os sorrisos, pintados a detalhe,
arqueavam-se
no reconhecimento
das vedetas.
Todos eles
enlaçados numa neblina
de mistérios,
faziam pose
às fotos que aconteciam
planeadas
premeditadas

Passei
olhei, atentei…
E curiosamente
ninguém me reconheceu
......... Tinha pintado o cabelo!

domingo, 26 de agosto de 2007

Sombras


As faces tem sombras,
não são vistas
estão escondidas
numa teia de ruelas
em janelas obscuras
num carrossel de odores,
na penumbra
de neos adormecidos.
Noite adentro,
em diálogo
ou monólogo
o silêncio impera!
É rei,
senhor ou escravo...
Tanto faz....

Elas, as sombras,
estão lá
moldadas numa claridade
que ofusca
os medos do confronto.

sábado, 25 de agosto de 2007

Fecho as mãos


Fecho nas mãos

algumas letras do alfabeto

e numa atitude virginal

escrevo teu nome

em lençóis de linho,

que cobrem

este corpo

quase moribundo.

Desalinhada,

descrevo círculos

num compasso

que me deleita.

Conto

contas em oração

e em silêncio,

em perdição,

escondo o sufoco

do grito dilacerante,

que me rasga,

esventra

em cólera

que sulca memórias

de uma imperfeita

dignidade,

espumada

em mãos vazias

de nadas!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

musica ** Sara Tavares

Quando tiveres vontade


Quando tiveres vontade,
lembra-te de me dizeres
que não tens vontade
para falar comigo...

Não te inquietes
com as minhas inquietações
da tua ausência.
Não percas o teu tempo
com receios
do meu receio
de não te ver... faz tempo...

(as minhas lembranças
são diferentes das tuas)

Não te questiones
com as minhas questões
sobre nós

(são meros acasos)

Não forces sorrisos,
para correspondes
ao sorriso que te dou,
enquanto espero pelo teu.


Lembra-me para te dizer,

que já não tenho vontade
para falar contigo.

Misturei palavras soltas


Misturei palavras soltas,
encontrei frases sem nexo.
Embrulhei-as em pétalas de flor,
reguei-as em mescla
de sabor adocicado.
Troquei letras,
acrescentei mistério,
solucei de inquietude,
tremi de susto,
sorri ao acaso do silêncio
e, plena de paixão,
voltei a trocar as letras,
encontrei diferentes signos.
Abracei o mundo,
consegui!

Precisava tanto
de amar este mundo,
dito perdido.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

musica ** Dina

musica ** Irmãos Verdade

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A cidade adormece


A cidade adormece
embalada por pirilampos
que rasgam o céu estrelado
de trompetes,
barulhentos e ensanguentados.
É a noite que amanhece
prematura, mas viril.
Nauseada
e quase moribunda,
a cidade
vai ficando
viúva constantemente.
É a solidão
de quem vive no medo
do encontro imprevisto,
na penumbra
do desejo que se dilui
numa chama
que não se quer apagada.

domingo, 19 de agosto de 2007

Não resisto ao feitiço da noite


Não resisto ao feitiço da noite,
transporto-me numa brisa
que atordoa,
arrasta-me
em pálido
ou brilhante encontro.

Um corpo que vou aceitar...

É o convite de uns olhos,
consentido desejo
do inconsciente.
Subtil máscara
que enfeita
me transfigura,
qual gazela sinuosa,
felina leoa,
mas sempre,
sempre
predadora da noite...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

musica ** Rui Veloso

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Em cetim branco


Em cetim branco
de pureza e suavidade,
inclina teu corpo.
Cobre-o com manta
bordada a pétalas
de rosas sem espinhos.
Adormece ao som
da melodia das musas,
procura mágicas coincidências
em amores especiais...
E...

Sonha!
Sonha o milagre
de o encontrar de novo!

domingo, 12 de agosto de 2007

musica ** Carlos Paredes

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Dedicatória- Diferentes Momentos


Dedicatória


Nasceu o sol, nasceu a lua e eu continuo dividida. Amo o sol, amo a lua. O sol dá-me calor, a lua faz-me sonhar.
E penso e repenso se o calor é mais forte, se o sonho é mais belo. E resta-me o consolo de ambos me fazerem sentir que valeu a pena ter existido, porque assim me é permitido amar o sol, amar a lua com a mesma paixão, a mesma razão.

Sou o ser mais especial do universo. Sou a mãe do sol, sou a mãe da lua.
A ti Bruno, a ti Renata




E segredou-me então o universo: - Eu sei que és a mãe do sol, a mãe da lua, por isso te dou uma prenda feita na minha mágica oficina. Queres aceitar?
Quero, respondi pronta e curiosa.
- Aqui está, feita à tua medida, fui aos teus sonos e recreei o teu imaginário,
terno, lutador, amigo, companheiro. Será teu na condição de o cuidares para todo o sempre. Não quebres a magia desta dádiva.
- Não, retorqui com determinação.
E aceitei esta oferta, transportei-a ao meu passado , converti-a no meu presente e quero que seja o meu futuro.
Posso ser a mãe do sol, a mãe da lua, mas este presente que me foi dado pelo universo é o pai do sol é o pai da lua.
A ti Fernando.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Espera por mim


Espera por mim
tens todo o tempo
só para ti.
Quero ainda um sorriso
um olhar cúmplice
uma palavra .
Espera por mim
só mais um instante
quero sentir teu corpo
ainda quente
antes que a maldita
te envolva.
Espera um pouco mais
já estou a chegar,
corro numa pressa
incontrolável.
Espera por mim
meu querido
quero que oiças a minha voz
sintas minhas lágrimas
meus soluços
minhas dores.
Tenho fome da tua pele
dos teus mimos tão sentidos
Espera por mim
Que ela não se atreva
a chegar primeiro.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Que suspiro louco


Que suspiro louco
contido
neste peito
já por si
tão quieto.
Esboço tímidas
palavras,
monossílabos apenas,
que a soma das letras
não tem ouvintes.
Muda continuo
em vigília
deste tormento.

Rasgo-me.


Trespassa-me
esta dor bastarda.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

musica ** Julio Pereira

musica ** João Pedro Pais

musica ** Sergio Godinho

musica ** Maria Albertina

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Caminho



Caminho,
corro num vale enorme
o meu cão
corre atrás de mim.
Que alegria!
Caio na relva
salpicada de mil e uma flores.
É lindo
rebolo, rio e o cão também.
Que felicidade poder brincar e sorrir.
Já cansada eu paro.
Deleito-me na relva ainda húmida
da cacimba da manhã
e penso, e escuto
o chilrear do passarinho
que lá longe sorri
passeando a sua liberdade...

E eu choro, tenho inveja,
escondo a cara dos raios solares,
o coração palpita,
a formiga labuta
na sua tarefa alegre e feliz.
E eu grito
um grito mudo
que ninguém ouve,
mas ecoa dentro de mim.
Emudeço,
também quero ser livre.

Então o cão, o passarinho,
a formiga e a cacimba
vêm beijar-me
e preparam
o funeral da minha tristeza.


E eu, sonho de novo.

Não tenho tempo















Não tenho tempo
para ti, filho.
A vida corre em tropeções
e eu não tenho tempo.
Quando me queres beijar
não tenho tempo
porque o tempo passou.
Chego a casa cansada
e não tenho tempo para dialogar.
Não tenho tempo
para as tuas incertezas
porque o meu tempo é incerto.
Não tenho tempo
para te embalar
ou contar uma história
porque agora o tempo é diferente.
Tem paciência, filho,
ganha tempo para esperar
pelo meu tempo
que não tenho para te dar.

domingo, 5 de agosto de 2007

musica ** António Variações

musica ** Carlos Paião

Sabe-me a sal


Sabe-me a sal
dor fingida.
Sabe-me a vazio
dor simulada.
Ando, tropeço, em silêncio
persigo-te na escuridão
de uma mágoa forjada.


Conheci-te companheiro
na berma de uma estrada.
Deambulavas perdido
na imensidão da tua dor.
Parei. Cobri-te com a minha
manta retalhada de consolo.
Tão pouco, quase nada...
E ficou-me este vazio
de te ver apenas partir
tão pobre do que te ofereci,
tão rico de solidão.

E eu... somente te vi passar.

sábado, 4 de agosto de 2007

musica ** Paulo de Carvalho

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

É o cheiro


É o cheiro
que cobre
a noite,
a madrugada.

É feliz
quem saboreia
apenas e só
esse cheiro
que envolve
a neblina
de uma manhã
tão tardia,
tão quieta...
E o cheiro
da maré vaza,
do sossego
de uma paz
que tardou
a chegar....

Bom dia amargura


Bom dia amargura!
Tão cedo me visitas,
ainda é madrugada sabias?
Meu rosto ensonado
não te vê com nitidez.
De que forma vens vestida?
De ilusão, de revolta?
A tua cor é tão amarga...


Bom dia amargura!
Deixa-me dormir mais um pouco
o sol ainda não nasceu.
Ah, já sei
recordações me trazeis.
Terra longínqua
terra de sonho
terra sublime
país destruído por Ti.
Deixa-me voltar
suplico-te, por um só momento
vergo-me em joelhos
imploro-te, amargura.

Sabes? és cruel,
ficas zangada, que importa...
és insaciável.
Deixa-me, volta mais tarde
prefiro a solidão a ti.


Amargura, bom dia!
Voltaste tão cedo...
O botão ainda não floriu,
volta quando ele já não for rosa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

musica ** Kizomba

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

musica ** Luis Represas

musica ** Ala dos Namorados

Deixa-me dizer-te


Deixa-me dizer-te
que tenho tantas saudades de ti!

Não me apercebi,
mas fui enfeitiçada
pela tua doçura,
ar gaiato e traquina,
olhar furtivo e terno.
Deixa-me dizer-te
que eras o meu sol,
alimento da minha pele,
agasalho da minha alma.

Como tenho saudades de ti!

E este vazio que teima
em não me abandonar...
Procuro-te com os olhos,
procuro-te em soluços,
adivinho teu passo ligeiro,
sinto ainda o cheiro
do teu corpo frágil,
dedicado e tão doce.

Como te amo!
Como tenho saudades de ti!

Vento agreste


O frio chegou novamente.
Treme o corpo ao vento agreste
que se entranha nos poros contraídos
sem protecção, sem medos.
Pedaços de um agasalho
já tão gasto desse frio inconstante,
que não aquece, arrefece.


E treme de novo o corpo.
Já é hábito, não o incomoda.
Mas faz tanto frio!
É gélida a nostalgia do momento,
é sulco que se forma pelo desgaste,
é emoção perdida, que não se encontra,
é vã a procura de uma chama.


E o corpo treme de novo
pelo frio que já não o encontra.